'Ansiedade' é a palavra do ano no Brasil, segundo pesquisa; saiba quando essa emoção passa a ser um problema
País é o segundo no mundo que mais busca informações sobre esse sentimento na internet
A sensação de incerteza, a pressão social do pós-pandemia, as mudanças climáticas e a desigualdade econômica marcam a "ansiedade" como palavra do ano em 2024.
O cenário foi destacado pela pesquisa Palavra do Ano, conduzida pela Cause em parceria com o Instituto de Pesquisa Ideia e o PiniOn app.
No levantamento, "ansiedade" foi mencionada por 22% dos brasileiros participantes, superando os termos "resiliência" (21%), "inteligência artificial" (20%), "incerteza" (20%) e "extremismo" (4%).
De acordo com o cientista político e sócio-fundador da Cause, Leandro Machado, a escolha reflete o espírito de uma era marcada por transformações rápidas e desorientadoras.
A pressão da economia, a presença crescente da inteligência artificial e as ameaças ambientais formam um cenário em que a população sente que está sempre um passo atrás, buscando equilíbrio em um futuro cada vez mais incerto. Essa palavra encapsula um país que busca estabilidade em meio à complexidade
, afirma.
O estudo também aponta, com base nos dados do Google Trends, que o Brasil é o segundo país no mundo que mais busca informações sobre esse sentimento na internet, atrás apenas da Irlanda.
As principais questões pesquisadas pelos brasileiros sobre esse sentimento são "sintomas de ansiedade" e "como lidar com a ansiedade".
Na avaliação do psicólogo e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), José Carlos Tavares da Silva, a ansiedade está mais presente na vida dos brasileiros devido às "necessidades de postos de trabalho, de garantia de segurança alimentar, patrimonial e da dignidade da pessoa".
O povo está refém de uma política econômica muito aquém de seus direitos e necessidades. O risco aumenta e, com isso, aumenta a dúvida. Quando aumenta a dúvida, aumenta a ansiedade. Nossa crise maior é de confiança e de esperança(...) A saúde mental do brasileiro está na UTI, sentimentos à flor da pele. Não se pode buscar culpados, deve-se procurar por soluções
, ressalta.
O que é ansiedade
José Carlos Tavares da Silva explica que a ansiedade é uma emoção básica que opera junto ao medo e auxilia na busca de uma reação a eventos de risco para a pessoa.
Segundo o especialista, esta emoção apresenta níveis e todas as pessoas são ansiosas em algum grau.
No entanto, quando esse sentimento se eleva e começa a causar perda de qualidade de vida, produtividade e de relações interpessoais, trata-se de "um processo mais danoso para a saúde física e mental da pessoa e se torna necessário um tratamento para manejo".
Há tratamento em terapia cognitivo comportamental, em terapia de aceitação e compromisso, na psicologia positiva, no mindfulness, na terapia dos esquemas… Todas as variantes de terceira onda da terapia cognitivo comportamental são eficazes. Ansiedade não se cura, se regula. Ela tem manejo, mas precisa querer
, afirma.
Nesse sentido, é preciso evitar alguns comportamentos que podem potencializar o sentimento. De acordo com o psicólogo, são eles: a procrastinação; a ruminação das dúvidas; a falta de decisão; o sentimento de incapacidade; e a repetição de estratégias de enfrentamento pouco eficazes.
Como reduzir a ansiedade
Além das terapias sugeridas por José, ele também dá dicas de como reduzir a ansiedade e adotar um comportamento mais saudável no dia a dia.
Entre as técnicas que podem ser utilizadas, o psicólogo destaca:
Utilizar avaliações realistas. "Se algo não está ao seu controle, não precisa se preocupar. Contudo, avalie as oportunidades de mudanças e, de modo realista, aja para obtê-las. Nesse circuito: aceite o que não pode mudar e observe onde, o que e quando pode mudar", explica José.
Usar o mindfulness (atenção plena ao momento presente) e considerar que os pensamentos devem fluir como folhas em um rio ou como nuvens no céu. "Pratique respiração profunda, diafragmática e relaxamento muscular progressivo. Estes processos reduzem a influência da adrenalina no organismo, reduzem a velocidade e o atrelamento dos pensamentos ameaçadores às consequências previstas", indica.
Outra recomendação do especialista é praticar a conversa assertiva, sem pessimismo ou otimismo:
Pratiquemos o papo reto, sem ofensas e sem sentimentos de ser ofendidos. Só quando compreendemos o outro, saberemos como nos fazer compreender. Viver em sociedade é complexo, mas isolado é mais complicado ainda (...) A atitude de enfrentar a vida com prudência, de conviver com solidariedade e parcimônia pode fazer muita diferença. Aceite o compromisso de ser o protagonista de sua vida. Seja ético e solidário. A vida sorrirá para você.
, acrescenta.
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