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Inflação oficial em 2024 fecha acima do limite da meta; setor de alimentos e bebidas é o mais afetado

Presidente do Banco Central aponta o crescimento econômico, clima e alta do dólar como os principais fatores

Por Eliandra Bussinger
14/01/25 - 15:51
Inflação oficial em 2024 fecha acima do limite da meta; setor de alimentos e bebidas é o mais afetado Carnes, leite, café e laranja foram os itens alimentares que mais pesaram no bolso dos brasileiros devido à inflação | Foto: Reprodução/Joédson Alves (Agência Brasil)

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano de 2024 em 4,83%, ou seja, 0,33 ponto percentual (p.p.) acima do limite máximo de 3% (com tolerância de 1,5 p.p.) estipulado pelo governo.

Essa é a oitava vez que o país rompe o teto estabelecido desde 1999, ano em que foi instituído o regime de metas da inflação na política monetária brasileira. A medida visa garantir a estabilidade econômica e evitar cenários de hiperinflação, como os enfrentados no Brasil durante os anos 80 e 90.

Quando a meta é ultrapassada, o presidente do Banco Central (BC), neste caso o recém-empossado Gabriel Galípolo, precisa divulgar publicamente as razões para o descumprimento por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Causas

O documento foi divulgado na última sexta-feira, 10. Nele, Galípolo apontou que o rompimento do teto ocorreu por uma "gama ampla de fatores", como: ritmo forte de crescimento da atividade econômica; questões climáticas, como a seca; e a alta do dólar.

Nesse cenário, a pressão inflacionária envolveu diferentes segmentos do IPCA, e o mais afetado foi o de alimentos e bebidas.

Segundo relatório do presidente do BC, produtos como carnes, leite, café, laranja e outros itens tiveram alta devido à deterioração de pastagens, efeitos da seca e enchentes no Rio Grande do Sul.

Além disso, o economista Matheus Dias, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), explica que o setor de serviços também contribuiu para pressionar a inflação, em função da economia aquecida, como produto interno bruto (PIB) mais forte e a queda no desemprego.

As pessoas têm mais renda e há maior consumo de restaurantes, salões de beleza, entre outros. Tudo isso pressiona: o aumento de renda, redução do desemprego e economia ativa fazem com que alguns serviços sejam mais sensíveis, enfatiza.

De acordo com as estimativas do Banco Central, a inflação seguirá acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025.

Essa tendência é confirmada pelo especialista do Ibre/FGV, que aponta um "cenário desafiador" provocado ainda pelos fatores climáticos e a desvalorização do real.

O La Niña pode afetar safras importantes como soja e milho, que são importantes na pecuária e têm um peso na inflação e no consumo do brasileiros como um todo (...) Temos ainda um dólar forte e os efeitos da desvalorização do real em 2024 não ficam no ano passado. Vamos continuar a sentir essas consequências e, como ainda estamos em um patamar elevado, a expectativa é de que a inflação siga em aceleração.

Efeitos no dia a dia

O reflexo da inflação no bolso dos brasileiros, no entanto, vai depender muito da composição dos gastos.

Para Matheus, as famílias pobres serão as mais prejudicadas, pois tendem a destinar um percentual maior do orçamento para alimentos.

Nos últimos anos, a alimentação no domicílio – arroz, feijão e carnes – aumentou mais que o salário mínimo, por exemplo, e as famílias tiveram uma perda real de sua renda por conta do aumento da inflação. O desvio da inflação em relação à meta faz com que as famílias tenham uma perda do poder de compra ainda maior, afirma.

As compras no supermercado e na feira devem continuar pesando nas contas da população em 2025, principalmente, se o dólar continuar em alta e registrar valores acima de R$ 6, segundo o especialista:

Para a inflação voltar para meta, ela tem que vir com uma melhora nas expectativas dos agentes em relação à política fiscal, o que não ocorreu em 2024. Isso causou a desvalorização do real e afetou os preços internos. Para a população, o impacto será ainda mais alto que no ano passado.

O economista ressalta ainda que o repasse cambial – nesse caso, os efeitos da desvalorização do real nos preços – não acontece de imediato e depende do setor da indústria.

Se olharmos o IPCA, o repasse de um determinado choque que ocorre na taxa de câmbio acontece ao longo de alguns trimestres. Pode ser que a chegada desse patamar de R$ 6, que ocorreu em dezembro de 2024, só vai ser sentido ao longo de 2025. Caso o dólar se mantenha nesse patamar, teremos um efeito ainda maior sobre a inflação.

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