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Um filho da mãe

Por George dos Santos Pacheco
08/05/24 - 11:17

“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.” (Paulo Freire)

Acaso tenha o leitor deparado com nosso prestimoso diário em busca de emocionantes e módicas palavras sobre as mamães, é bem possível que tenha se enganado. Acho que sim, meu senhor. Antes de julgar-me, porém, tenha em mente que não se trata, de maneira alguma, de malcriação, indelicadeza, ou coisa que o valha. Mamãe me educou muito bem para uma coisa dessas.

Pouco caso? Ora, também não! Convenhamos, se não fosse importante, mamãe não seria reverenciada há séculos e em diversas culturas nesse mundão de meu Deus. Pachamama, por exemplo, é a venerada grande mãe do povo boliviano, peruano e andino, a provedora de todos os alimentos, nutridora e protetora de seus filhos. Já na Grécia antiga, o começo da primavera era festejado em honra de Reia, conhecida como a mãe dos Deuses, símbolo de amor incondicional e fraternidade perante os filhos. Cibele, a magna mater, Mãe dos Deuses romanos, era homenageada muitos anos antes do nascimento de Cristo. Daí, terráqueo, você acredita que logo eu cometeria uma heresia dessa monta? Deus me livre e guarde.

O negócio é que, na verdade… eu sou um filho da mãe. Tão somente isso. E é por essa razão que não tenho condições alguma de falar sobre aquelas que geraram; nesse assunto, é claro e explícito que sou um não-sujeito, um completo estrangeiro. Indelicadeza seria se me atrevesse discorrer sobre o que é ser mãe, sendo público e notório que minha natureza me impede de entendê-las em sua totalidade. É bem verdade que, a essa altura do campeonato, já começo a compreender o que é ser pai, e vá lá, ser mãe deve ser algo parecido. Parecido? Pero no mucho. A semelhança entre pai e mãe é tal como a Gramática e a Linguística, a Álgebra e a Geometria, o Realismo e o Romantismo.

Por isso não posso falar do “ser mãe”, pois corro o risco de ser injusto e achincalhado numa esquina qualquer de Gotham City. Assim, limito-me, orgulhosamente, ao meu posto de filho da mãe. Por que não deveria me envaidecer?

É verdade, não sei o que é ser mãe, mas sei bem o que é acordar com medo no meio da noite e ter alguém que me consolasse, estar com dor ou com febre e ter alguém que me cobrisse de cuidados. Sei bem o que é estar na dúvida e ter alguém para me aconselhar. Sei bem o que é tomar uma decisão e ter alguém ao meu lado, assim como sei, muitíssimo bem, o que é ser repreendido quando necessário. Sei bem o que é ter, mesmo na simplicidade, um lanche gostoso numa tarde chuvosa. Sei, igualmente, reconhecer no olhar o orgulho e a decepção. Sei bem o que é gratidão por todas essas coisas e, por fim, sei muito bem o que é temer uma sandália virada com o fundo para cima. Deus me livre e guarde!

Acaso tenha o leitor deparado com nosso prestimoso diário em busca de loas e encômios às mamães, acertou em cheio. Eu é que não ia deixar passar uma oportunidade dessas. Pois mamãe merece todos os elogios, palavras de afeto e reconhecimento. E isso, jamais esqueça, é coisa de filho da mãe!


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