Aquilo que importa
“De que vale tudo isso, se você não está aqui?” (Roberto Carlos)
A molecada foi apressadamente reunida logo ao anoitecer. Fazia mais ou menos uma hora que começara a chover, o que nos obrigou a jogar adedanha e brincadeiras de roda e, é claro e evidente, já há muito se tornara difícil conter os pequenos dentro de casa. “Canta logo parabéns, então”, alguém sugeriu, com ar de enlevo, como se dono de um insight genial e extraordinário – embora fosse uma solução não tão difícil de prever. E então fomos aos parabéns, acotovelando-se em volta da mesa.
Quem completava anos era o Lelei, rapazote bom de bola e de sorriso fácil. Aproveito a deixa e abro aqui um parêntese para lembrar tristemente que nunca mais o vi, não sei por onde anda e o que fez da vida, assim como tantos outros amigos dos quais não sei o paradeiro, mas que fizeram parte da minha vida, assim como eu também fiz da deles. Enfim… esses desencontros acontecem, por mais que a gente não queira, não é? Sigamos em frente!
A festa era simples, mas bem organizada, agradável e divertida. A mesa estava enfeitada com alguns docinhos simples e o bolo no meio, decorado com tema de futebol, confeitos prateados espalhados sobre o glacê, várias bexigas de ar em tom azul claro e branco presas na parede de azulejos bege, como se montassem um painel para as preciosíssimas e raras fotos – doze poses era o mínimo; vinte e quatro, para quem podia; trinta e seis, um luxo.
“Está todo mundo aí?”, perguntou algum adulto e a luz apagou-se repentinamente, sem que houvesse tempo suficiente para acender as velas. O som de passos pesados ecoou no ambiente, correria, risadinhas e por fim, alguém pediu que acendessem novamente as lâmpadas, “rapidinho”, para acender a vela, de fato. Quando tudo se iluminou novamente, pasmem, festivos leitores: o bolo havia desaparecido.
Coitado do Lelei... observá-lo com os olhos marejados de uma triste emoção foi igualmente triste e pesaroso. Todos entreolharam-se confusos, os adultos presentes questionavam-se, alguns saíram em busca do bolo perdido, mas uma criança foi mais sagaz que todos e puxou, num átimo, um estridente e sonoro “parabéns pra você...”, que logo era seguido por mais um, e mais um, até que o coro tornou-se efusivo e radiante – incluindo Lelei, que agora batia palmas feliz com um grande sorriso no rosto, orgulhoso dos amigos e parentes. Bolo para quê?
O que aquela criança fez, em sua inocência, foi lembrar a todos o que era mais importante naquela festa. O que de fato importa? Bolos, doces, bebidas, bexigas de ar, presentes… ou o aniversariante, os amigos em torno da mesa? Verdadeiramente, toda essa alegoria tem uma grande representatividade num evento desses, é a festa em si, mas sem aniversariante, ou sem amigos que comemorem conosco, pouco adianta qualquer coisa. De que vale trinta e seis poses numa câmera Kodak se não tivermos com quem fotografar?
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Que importam bolos, confeitos, pipoca e refrigerante? Isso não vale nada se não estivermos juntos, terráqueos. Quanto àquele meu amigo de infância, espero sinceramente reencontrá-lo. Quanto ao Portal Multiplix, desejo não perdê-lo de vista.
Parabéns, Portal Multiplix! Sigamos em frente!
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