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Do esquecimento

Por George dos Santos Pacheco
31/08/22 - 11:06

“É a obsessão em esquecer e a necessidade de lembrar que nos pregam essa peça medonha.”

Certa feita estava eu em casa, assistindo TV. Sentei-me no sofá, recostei-me, peguei os controles e fiquei zapeando os canais. Foi então, que entre um canal e outro, tive um insight, um estalo, uma ideia maravilhosa para uma crônica. Espetacular, caro leitor!

Daí surgiu uma dessas tarefas domésticas a fazer e quando concluí, surgiu outra, e outra... pensei: amanhã escrevo. Outros compromissos surgiram e... você lembra da ideia que tive? Nem eu.

Forcei a mente para descobrir do que se tratava e nada, nadinha de nada, neca de pitibiribas. Por que é, meu Deus do Céu, que temos tanta facilidade para esquecer coisas que nos são importantes, às vezes até urgentes e tamanha dificuldade para esquecer coisas que nos incomodam? A resposta para essa problemática tão enigmática (reparou como estou cheio de musicalidade hoje?) talvez seja a própria mente. É a obsessão em esquecer e a necessidade de lembrar que nos pregam essa peça medonha.

Eu saio de casa cheio de recomendações da Dona Maria do que comprar e do que não comprar no Mercado do Zé e, para finalizar, ela diz assim: "Vê se não esquece, hein?". Pronto! É o abracadabra, sim-sim-salabim, as palavras mágicas do esquecimento.

O mesmo acontece com tudo aquilo que nos atormenta, aquelas memórias que traumatizam. Você acorda pensando e se deita lembrando. Daí você ou qualquer outra pessoa diz: "Você precisa esquecer isso" e zapt! O cravo já está preso, bem firme, nas anteparas de sua mente.

O leitor talvez não entenda o que quero dizer com certa desmesura. Bem, primeiramente... afirmo e repito que esqueci o que eu pretendia escrever inicialmente (mas ia ficar muito bom, eu garanto!), segundamente (risos), acho que o segredo (e não precisa ter diploma para inferir isso) para este nosso problema do esquecimento é justamente inverter essa lógica: o que define o que vamos manter em nossas mentes é a importância que damos ao fato ou informação. Se queremos esquecer, basta se distrair; se não podemos, é só criar uma significação para a informação, como um gatilho que nos recordará (sua mãe te ensinou a amarrar um barbante no dedo?).

Simples, não é?

Parece, mas não é. Se fosse assim não tinha tanta gente frequentando psicólogo e alguns esquecendo até aniversário de casamento (que ruim, hein?). De qualquer forma, a receita está aí, e se você esquecer, basta ler a crônica outra vez.

Se eu me lembrar do que havia pensado vendo TV, escrevo uma confissão sobre o esquecido. Caso contrário, improviso outra crônica do esquecimento.


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